Antonio Carlos Pedroso
Vivemos um momento muito especial para a área empresarial em função das novas normas estabelecidas para apresentação das demonstrações financeiras, que requerem – cada vez mais – sua conformidade com as normas internacionais. Ganham também relevância termos que estamos nos acostumando a ouvir e ler constantemente, como “boas práticas”, “fair trade” e “accountability”, por exemplo. Essa condição da qualidade das informações a serem prestadas pelas empresas é uma nova e constante exigência do mercado. Certamente comporá a relação das barreiras não tarifárias dos, cada vez mais exigentes, importadores e/ou compradores de produtos, bens e serviços, aumentando, como conseqüência, os riscos regulatórios, de um modo geral. No início deste ano, quando já sabíamos que as alterações à Lei das Sociedades Anônimas deveriam ser aplicadas nas demonstrações deste ano, foram divulgados, ainda em janeiro, pelo site Empreendedor (www.empreendedor.com.br), os seguintes 10 principais riscos para os negócios em 2008: 1. Riscos regulatórios e de compliance 2. Envelhecimento de consumidores e da força de trabalho 3. Choques financeiros globais 4. Mercados emergentes 5. Consolidação / transição industrial 6. Choques de energia 7. Execução de transações estratégicas 8. Custos de inflação 9. Radical greening (pressões causadas pela crescente preocupação com questões ambientais) 10. Migrações de demandas dos consumidores É interessante observarmos que não há, de fato, surpresas inesperadas, quando lemos com um pouco de atenção os indicadores sobre o que nos reserva o futuro. Não há surpresas quando temos os instrumentos adequados e uma estrutura para gerenciamento de riscos, quer de natureza interna, quer de natureza externa. Especialmente quando há transparência na informação. Portanto, para que tudo funcione, e funcione bem, é necessário que a organização possua, também, boas práticas para a transparência. E é aqui que grande parte dos gestores ainda vem pecando... Afinal de contas, há uma questão inquietante a ser respondida: “O que é transparência?” Num primeiro instante podemos listar as seguintes qualidades sobre transparência: legitimidade; simplicidade; originalidade; revelar o que é essencial etc. Segundo os sites do Governo que tratam da transparência pública, podemos observar que ela é entendida pela “construção da relação entre Estado e Sociedade, mediante prática de prestação de contas”, por exemplo. Alguns órgãos governamentais chegam a criar leis e/ou normas para que “haja maior transparência”. Algumas empresas também criam novos controles e regras complexas a serem seguidas, com o objetivo de “serem mais transparentes”, como se fosse possível graduarmos a transparência com que divulgamos as informações sobre a empresa. Ainda que a palavra transparência possa nos remeter à qualidade do vidro, por exemplo, que pode revelar vários graus de nitidez com que se poderá analisar “o que há do outro lado” dele, há apenas dois tipos de transparência quanto às informações das empresas: Ela Existe ou Não. É como se diz: “Pior do que uma mentira inteira, somente uma meia-verdade.” O que temos observado, infelizmente, é um receio de algumas empresas apresentarem os principais fatos ocorridos na gestão ou em seu negócio. Há receio de “dar informações de mais aos concorrentes e, com isso, acabam comprometendo a informação prestada. Os leitores acabam compreendendo de forma equivocada aquilo que está sendo revelado ou, o que é pior, imaginando algo oposto ao que deva ser entendido. A melhor política para o exercício da transparência é, portanto, a prática constante da simplicidade. Quanto mais simples forem as informações prestadas, mais facilmente elas serão compreendidas por todos, sem que haja margem para interpretações diversas, equivocadas ou falsas. A simplicidade na comunicação é o segredo! Os contadores, especialmente aqueles com formação nas áreas de auditoria e controladoria, são – normalmente – mais habilitados a preparar, juntamente com alguém especializado em comunicação, a forma e o conteúdo das informações a serem passadas aos diversos usuários da informação contábil. É um novo tempo... Realmente os tempos são novos. Não há mais espaço para análises complexas, que nada informam. Felizmente as “agendas ocultas” estão com “seus véus – pouco-a-pouco – sendo revelados”. É momento de se revelar, também, o novo profissional que, além da competência em elaborar dados para a contabilidade das empresas terá a responsabilidade de criar apresentações simples e claras a todos os usuários das informações contábeis das empresas. As novas (e boas) práticas estão aí, para comprovar essa nova situação. A transparência, o “fair trade”, “accountability”, e a ética são os vetores desses novos tempos.