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O lado bom e o lado ruim de empreender

Sucesso, risco, não ter chefe e ser refém do cliente: as duas faces do mundo dos negócios

Ser dono do próprio negócio significa trabalhar com o que gosta e ter uma autonomia que jamais seria dada a um empregado. Por outro lado, a responsabilidade pesa, e, no caminho, há percalços, como achar mão de obra qualificada e pagar um montão de impostos. Entre o céu e o inferno do empreendedorismo, existem muitos mitos que envolvem, principalmente, mais tempo e mais renda. O Sebrae fez uma série de perguntas a empreendedores, antes e depois de abrirem uma empresa. Antes, 41% achava que poderia tirar férias na hora que quisesse, mas, uma vez aberto negócio, só 23% continuaram acreditando nisso.

Era o que pensava Luiz Fernando Salgado antes de inaugurar sua lavanderia, há seis anos. “Quando eu trabalhava na lavanderia do meu pai, tinha hora para chegar e para sair. Hoje, se alguém me chama para viajar no outro mês, não posso dar certeza, pois vai que bem no dia faltam três funcionários”, conta Salgado. O empresário reconhece que administrar traz muitas responsabilidades, mas destaca que a principal vantagem é poder transmitir ao público algo em que se acredita.

Segundo o professor de empreendedorismo do Ibmec João Bonomo, os mitos mais comuns são os que remetem a ganhar mais dinheiro e ter mais tempo livre. Ele afirma que, para fugir das ilusões, não basta planejamento. “Antes de empreender, a pessoa tem que fazer uma imersão em si mesmo e ver se está realmente disposta a mudar a vida dela. Dinheiro é necessário, mas a grande questão é ter um propósito, então o dinheiro será consequência”, disse.

O gerente de inteligência empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão de Melo, afirma que existem pelo menos dez características básicas que um empreendedor deve ter para alcançar o sucesso. Entre elas, destacam-se os perfis de buscar oportunidades, correr riscos calculados, ter persistência, estabelecer metas e se comprometer. “É preciso reconhecer essas atitudes em si mesmo, antes de empreender. Se não tem, é preciso pensar se tem condições de desenvolvê-las. Por exemplo, sem persistência, se a pessoa abre um negócio e o mercado fica ruim, acaba desistindo. Mas tem que buscar informações para competir”, ressalta.

De acordo com Melo, a maior ilusão é acreditar que ser dono significa não ter que dar satisfação para mais ninguém. “O empreendedor não pode pensar que não deve mais prestar contas porque não tem patrão. O patrão é o cliente, e o empreendedor tem que se colocar no lugar dele”, destaca. Segundo levantamento do Sebrae, antes de ter uma empresa 40% das pessoas acreditam que vão viver correndo atrás de dinheiro. Depois que abrem, esse percentual aumenta para 62%. E se 25% achavam que trabalhariam menos, depois só 15% continuam pensando a mesma coisa.

O engenheiro ambiental Marcus Gustavo Della Lucia diz que é exatamente assim que se sente. “A gente tem conhecimento, estuda a vida inteira, quer modernizar o negócio, mas é muito difícil e caro para a pequena empresa ter acesso à tecnologia no Brasil. Eu faço consultoria ambiental, mas o mercado está praticamente parado e não permite vender o serviço pelo real preço. A sensação é de estar sempre correndo atrás do dinheiro”, destaca. Segundo ele, são tantos custos que às vezes sobra muito menos do que se imagina. “A gente faz um projeto achando que a margem vai ser 35%, mas o lucro acaba sendo de apenas de 10%”, completa.

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