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Dólar cai 17,7% ante o real em 2016, mas incertezas rondam 2017
Este é o maior recuo em 7 anos; expectativa de vitória democrata nos EUA trajetória de queda
O impeachment da presidente Dilma Rousseff, que gerou otimismo de mudança na política econômica, e a expectativa de que a democrata Hillary Clinton ganharia a presidência dos Estados Unidos sustentaram a trajetória de queda do dólar ante o real ao longo de 2016, e levaram a moeda norte-americana a registrar a maior recuo anual ante o real em sete anos.
Mas a cena política brasileira ainda conturbada, com importantes figuras do governo — inclusive o presidente Michel Temer — citadas em delações premiadas da operação Lava Jato, e a surpreendente vitória de Donald Trump na corrida presidencial norte-americana acenderam o sinal de alerta nos mercados para 2017, com expectativa de turbulências à frente.
O dólar fechou o último pregão do ano em queda de 0,94 por cento, a 3,2497 reais na venda, acumulando no ano desvalorização de 17,69 por cento, na primeira queda anual desde 2010 (-4,4 por cento) e a maior desde 2009 (-25,3 por cento). Entre 2011 e 2015, durante o governo da ex-presidente Dilma, a moeda norte-americana saltou 137 por cento ante o real.
Só em dezembro, a moeda norte-americana perdeu 4,06 por cento ante o real, a maior queda desde o recuo de 11,05 por cento de junho, resumiu o economista-sênior do Banco Haitong, Flávio Serrano.
— É difícil saber o que vai predominar. Há vários elementos que podem fugir das expectativas.
Recente pesquisa da Reuters já havia tomado esse pulso, ao mostrar estimativas para o dólar em 2017 com grande intervalo, de 2,98 a 3,88 reais.
O futuro governo Trump é um fator de pressão de alta para o dólar ao redor do globo, inclusive no Brasil, devido a promessas de maiores gastos e redução de impostos que podem obrigar o Federal Reserve, o banco central norte-americano, a elevar mais do que o esperado os juros nos Estados Unidos.
O Fed subiu recentemente os juros, como amplamente esperado diante da recuperação da maior economia do mundo, e previu que em 2017 deverão ocorrer outras três altas. Juros maiores nos EUA têm potencial para atrair recursos aplicados em outros mercados, como o brasileiro.
E com o Banco Central brasileiro em processo de redução dos juros básicos, hoje a 13,75 por cento, o mercado de câmbio no país pode sofrer com a saída de investidores.
— Pelo livro texto, menos juros significa dólar mais alto. Mas o efeito não está claro", afirmou o economista da consultoria Tendências Silvio Campos Neto. "Assim, o mais condizente seria um dólar mais apreciado do que está, fechando 2017 em 3,60 reais.
Mas há quem acredite em um cenário mais suave, comentou o sócio-gestor da Gestora GGR Investimentos, Telêmaco Genovesi Jr, para quem o dólar deve rondar o atual patamar ou mesmo recuar ante o real em 2017.
— Trump não deve colocar em prática tudo o que prometeu na campanha, o que deve ser benéfico para o Brasil.
Ele referia-se às promessas radicais do republicano, como revisão de acordos comerciais e protecionismo. Sem tirá-las no papel, o atual status comercial de países como o Brasil seria mantido pelos Estados Unidos.
E, mesmo com as projeções de que a Selic no Brasil caia a cerca de 10 por cento em 2017, a taxa continuará sendo uma das mais altas do mundo, com potencial para atrair investidores. Ainda mais se a economia mostrar recuperação no próximo ano, comentou o estrategista-chefe do BNP Paribas para Câmbio e Renda Fixa na América Latina, Gabriel Gersztein.
— Os preços dos ativos estão depreciados e, com a melhora do país, em meio ao ajuste (fiscal), deve haver maior procura por parte dos investidores estrangeiros. O dólar, se o cenário favorável se confirmar, pode cair até os 3 reais.
Turbulências
Se no exterior o governo Trump é a principal questão para o comportamento do dólar, internamente o andamento da economia doméstica é um outro fator que terá ascendência sobre a moeda norte-americana, da mesma forma que o cenário político.
O ano de 2016 pode ser considerado um dos mais turbulentos na cena política e econômica nos últimos anos, com o país passando por um impeachment, forte recessão e sérias denúncias de corrupção — sobretudo no âmbito da operação Lava Jato — envolvendo importantes figuras políticas.
Com a economia sem dar sinais consistentes de recuperação em breve, os agentes econômicos se voltam agora para as reformas prometidas pelo governo de Michel Temer, sobretudo a da Previdência, e que dependem do Congresso Nacional, afirmou o economista-chefe da corretora Infinity Asset, Jason Vieira.
— No fundo, a preocupação do mercado é com o andamento das reformas. Se elas forem aprovadas, não importa quem esteja lá (no governo).
Neste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deverá recuar cerca de 3,5 por cento, segundo a pesquisa Focus do BC, realizada semanalmente com uma centena de economistas. E a expectativa para 2017 é de elevação de apenas 0,50 por cento.
Intervenção
Em meio ao cenário bastante conturbado, o Banco Central atuou pesadamente no mercado de câmbio ao longo de 2016, sobretudo por meio dos leilões de swaps. Com a virada do ano e as incertezas que ainda rondam, a expectativa é de que o BC não deixe a cena, mesmo que seja para rolar os swaps tradicionais — equivalentes à venda futura de dólares, comentou o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado.
— Acho provável uma rolagem (de swaps), pelo menos parcialmente. Não é do interesse do BC que esse vencimento morra para não gerar pressão de alta (do dólar) diante do que vem pela frente em 2017.
A última intervenção da autoridade foi em 13 de dezembro, por meio de leilão de linha — venda de dólares com compromisso de recompra. O estoque total de swaps está o equivalente a 26,6 bilhões de dólares, segundo dados do BC.
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