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Mantega: empresas terão de arcar com prejuízos

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a descartar ontem o contágio da crise global no país e disse que não existe subprime no país. Segundo ele, o contágio é mais psicológico, e os problemas com derivativos cambiais não são tão grandes como se comenta, uma vez que as perdas maiores se restringem a três grandes empresas: Aracruz, Sadia e Votorantim. Ao contrário do que havia dito na sexta-feira o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, Mantega garantiu que o governo não vai salvar nenhuma companhia que "ousou" apostar no mercado futuro. Para Mantega, se o problema das empresas com prejuízos em operações de derivativos cambiais "exóticos" for da ordem de US$10 bilhão a US$20 bilhões, como especula o mercado, são "um problema perfeitamente absorvível". - As empresas que ousaram no mercado futuro tem que pagar o preço de sua ousadia. Não será o governo que vai cobrir isso. O governo tem obrigação de dar crédito e liquidez, mas a valores de mercado, e é isso que estamos fazendo. - Não há subprime na economia brasileira - afirmou. - Nós não vamos absorver nenhum prejuízo dessas empresas. Não haverá nenhum subsídio, nenhuma concessão especial. Que fique claro: elas estão arcando com seus prejuízos. As declarações foram feitas após reunião de duas horas com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para avaliar os efeitos da crise. Mantega admitiu, porém, que as medidas tomadas pelos governos de EUA e Europa ainda não produziram melhora substancial no quadro econômico internacional, já que não se traduziram em mais crédito para o setor produtivo. Diante disso, Mantega disse que é quase certo uma retração da atividade econômica e até mesmo recessão nesses mercados. - O que agora está causando uma perturbação nos mercados é a certeza de que a retração econômica será forte e algumas economias poderão dar sinais de recessão - disse o ministro. - O Reino Unido já deu um primeiro indicador de recessão, teve crescimento negativo (no terceiro trimestre) e poderá ser seguido por outros países europeus. O ministro voltou a ressaltar que o governo brasileiro está adotando as medidas necessárias para o conter o impacto da crise no mercado doméstico e recomendou que a população tenha uma vida normal e continue comprando. Segundo Mantega, os bancos já estão operando com 79% a 80% dos créditos que possuíam antes. O ministro até contou que está comprando um apartamento em "oito ou dez vezes", mas financiado diretamente com o proprietário do imóvel. Ele disse que o BC já liberou cerca de R$50 bilhões dos depósitos compulsórios para os bancos e reiterou que o governo está preocupado em irrigar crédito para os setores de construção civil, agricultura e indústria automobilística. Ministro vai ao Congresso defender MPs da crise Para tentar garantir a aprovação da medida provisória (MP) 442 - que autoriza o BC a comprar, diretamente, carteiras de crédito de pequenos bancos - o mais rápido possível e desarmar espíritos, Mantega volta hoje ao Congresso Nacional. O ministro deverá participar do fim da reunião de líderes da Câmara e do Senado, em que serão discutidas as duas MPs editadas pelo governo numa reação à crise econômica mundial. A 442 está na pauta e deverá ser votada entre hoje e amanhã. Na semana passada, Mantega esteve na Câmara na véspera da edição da MP 443 - que permite que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF) comprem bancos privados. Ele falou durante horas numa comissão geral convocada para discutir os efeitos da crise no Brasil e não mencionou a edição da MP. O ministro estava acompanhado de Meirelles. A edição da 443 pegou de surpresa até mesmo líderes da base aliada, que manifestaram desconforto. Líderes da oposição reagiram indignados ao fato de não terem sido comunicados da edição de novas medidas durante o debate. E chegaram a avisar que teriam que rever o acordo inicial de votar a MP 442 esta semana, à luz das novas medidas contidas na 443. Para a oposição, os ministros poderiam ter comentado sobre a nova medida, sem que isso colocasse em risco a economia brasileira. Ontem, porém - apesar de avisar que vão apresentar emendas - os líderes da oposição admitiram votar a 442 esta semana e conversar sobre a 443. - Não faremos nenhum tipo de guerra política, mas queremos aperfeiçoar as medidas - disse o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). - Vamos levar propostas à reunião de líderes - disse, por sua vez, o líder do PSDB, deputado José Anibal (SP).
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